Ouvir para Além das Palavhras

15-06-2025

A crise afeta cada um de nós de forma diferente. Em tempos de agitação emocional, muitos instintivamente apressam-se a oferecer soluções — conselhos práticos, passos para corrigir o que está quebrado. Mas, no espaço cru do trauma, o que as pessoas mais precisam nem sempre é de uma solução — é de alguém que as escute.

Quando alguém está a sofrer, a sua primeira reação pode não ser racional. As emoções transbordam em ondas — luto, raiva, medo — por vezes dirigidas precisamente às pessoas que estão a tentar ajudar. Foi o que aconteceu com o José (nome fictício), que veio ter comigo abalado e em desespero. A sua esposa, com quem partilhava 35 anos de vida, estava em estado grave e, sem introdução nem hesitação, lançou-se numa tempestade de frustração — acusando-a de ser agressiva, repressiva e ofensiva, apesar de todos os seus esforços para cuidar dela.

O que o José ainda não compreendia era que aquilo não se tratava do comportamento dela — tratava-se da dor que ela sentia. Estava à mercê de um colapso emocional, incapaz de processar ou exprimir o que estava a viver de outra forma. O seu ataque não era pessoal — era um pedido de ajuda.